O que nos diz um desenho de família?
Em alguns atendimentos, opto por pedir a criança um desenho (a maioria adora desenhar!). Digo: “desenhe uma família.” Ao invés de falarmos pra criança desenhar “sua família” apenas dizemos a ela que desenhe “uma família”. Isso dá mais liberdade para ela se expressar.
O desenho da família nos fornece fontes de compreensão de como a criança se percebe em seu ninho, sua importância, suas afeições, seus medos, ciúmes, saudades… E como ela sente suas relações familiares.
Ao desenhar, a criança não tem consciência de que está comunicando mais sobre si própria do que sobre o que desenhou.”
Atualmente há especialistas de diversas áreas do conhecimento que estudam os desenhos das crianças. Sabendo que não devemos nos fundamentar em apenas um desenho, pois ele nos traz informações que devem ser analisadas e associadas a outras ferramentas ou abordagens clínicas.
Entre os autores que pesquisaram profundamente os desenhos infantis, está o francês Louis Corman, que diz: “o desenho permite avaliar não só o nível de maturidade afetiva e intelectual, como também o que está no âmago das dificuldades, problemas e conflitos emocionais nas relações da criança ou do adolescente, com a própria família.”
Os significados por trás desses traçados podem ser muitos e é importante ter algum conhecimento específico para encontrá-los. Depois de desenhar, gosto de fazer algumas perguntas para a criança e também olhar o desenho com o familiar que a acompanha.
Do ponto de vista biológico, vou destacar três exemplos que considero importantes:
1- Como/onde a criança se desenha (Ou seja, a representação que ela desenha de si): em que posição, tamanho, quais as características. Há crianças que desenham toda uma família e depois ela, muito distante e afastada. Outras crianças desenham uma representação de si entre os pais. Há crianças que se desenham muito menores do que as outras e até presas em algum lugar.
2- Também gosto de observar como a criança representa um irmão. Já vi desenhos onde a criança não desenha um irmão. Ou então, desenha o bebê com os pais e ela muito longe do restante da família. E claro, há desenhos harmoniosos nesse sentido também.
3- Observo como as crianças estão representando os pais. Por vezes a criança desenha um monstro no lugar de um deles, ou desenha um gritando, ou então o pai indo embora, ou longe da família. Há desenhos aparentemente mais harmoniosos, mas se observarmos em detalhes veremos a mãe virada para um lado, o pai pro outro e a criança no meio.
Há uma infinidade de possibilidades aqui. Lembrando que não podemos determinar nada em apenas um desenho e na prática clínica ele é somado a minha abordagem de atendimento.
Ressalto que não estamos falando da qualidade do desenho, visto que cada fase do desenvolvimento infantil tem suas próprias características. E mesmo que eu tenha por costume fazer esse pedido para as crianças, o mesmo vale para qualquer idade.”
Eu opto por pedir o desenho da família, mas posso pedir pra criança desenhar uma casa, um medo, uma criança… Existem muitas formas de se expressar através do desenho e percebemos isso nas obras de arte.